segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Paulo Victor e Rodolfo Cavalcanti

SOU UMA PERGUNTA
“Por que faço perguntas?
Por que não há respostas?
Por que quem me lê está perplexo?
Por que a língua sueca é tão macia?
Por que fui a um coquetel na casa do Embaixador da Suécia?
Por que a adida cultural sueca tem como primeiro nome Si?

Por que estou viva?
Por que quem me lê está vivo?
Por que estou com sono?
Por que se dão prêmios aos homens?
Por que a mulher quer o homem?
Por que o homem tem força de querer a mulher?

Por que há o cálculo integral?
Por que escrevo?
Por que Cristo morreu na cruz?
Por que minto?
Por que digo a verdade?
Por que existe a galinha?
Por que existem editoras?
Por que há o dinheiro?
Por que pintei um jarro de vidro preto opaco? "
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo: crônicas.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999

Aléxia Rocha e Raphael Godoi

       O que é Angústia
Um rapaz fez-me essa pergunta difícil de ser respondida. Pois depende do angustiado. Para alguns incautos, inclusive, é palavra de que se orgulham de pronunciar como se com ela subissem de categoria - o que também é uma forma de angústia.
   Angústia pode ser não ter esperança na esperança. Ou conformar-se sem se resignar.Ou não se confessar nem a si próprio, ou não ser o que realmente se é, e nunca se é. Angústia pode ser o desamparo de estar vivo. Pode ser também não ter coragem de ter angústia - e a fuga é outra angústia. Mas angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai.
  Esse mesmo rapaz perguntou-me: você não acha que há um vazio sinistro em tudo? Há sim. Enquanto se espera que o coração entenda.


  LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo: crônicas. 
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NATHALIA CAMARGO

Não entendo.

Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.

Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.

Não entender, do modo como falo, é um dom.

Não entender, mas não como um simples de espírito.

O bom é ser inteligente e não entender.

É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.

É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.

Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco.

Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

LISPECTOR, Clarice, A descoberta do mundo: crônicas.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999

Shirley Mclaynne e Viviane

SOU UMA PERGUNTA 

Quem fez a primeira pergunta? 
Quem fez o mundo
Se foi Deus, quem fez Deus? 
Por que dois e dois são quatro? 
Quem disse a primeira palavra? 
Quem chorou pela primeira vez? 
Por que o Sol é quente? 
Por que a Lua é fria? 
(...) 
Por que se ama
(...)
Por que há o som? 
Por que há o silêncio
Por que há o tempo? 
Por que há o espaço? 
Por que há o infinito
Por que eu existo? 
(...)
Por que se lê? 
Por que há a raiz quadrada
Por que há flores? 
Por que há o elemento terra? 
Por que há a gente quer dormir? 
Por que acendi o cigarro? 
(...)
Por que e quem inventou os óculos? 
Por que há doenças? 
(...) 
Por que estou com sono? 
Por que se dão prêmios aos homens? 
Por que a mulher quer o homem
(...)
Por que pintei um jarro de vidro de preto opaco? 
Por há o ato sexual? 
(...) 
Por que se reza? 
Por que se envelhece
Por que existe câncer? 
Por que as pessoas se reúnem para jantar? 
Por que a língua italiana é tão amorosa? 
Por que a pessoa canta? 
Por que existe a raça negra? 
Por que é que eu não sou negra? 
Por que um homem mata outro? 
(...)
Por que a Parapsicologia é ciência? 
Por que vou estudar matemática? 
Por que há coisas moles e coisas duras? 
(...)
Por quê? 
É porque. 
Mas por que não me disseram antes? 
Por que adeus? 
Por que até o outro sábado? 
Por quê? 

LISPECTOR,Clarisse.A descoberta do mundo:crônicas.
Rio de Janeiro:Rocco,1999.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rodrigo Estevam Dos Anjos

" Não entender. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. "



LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo: crônicas.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Laysa Oliveira e Tatiane Costa

SOU UMA PERGUNTA
“Por que faço perguntas?
Por que não há respostas?
Por que quem me lê está perplexo?
Por que a língua sueca é tão macia?
Por que fui a um coquetel na casa do Embaixador da Suécia?
Por que a adida cultural sueca tem como primeiro nome Si?

Por que estou viva?
Por que quem me lê está vivo?
Por que estou com sono?
Por que se dão prêmios aos homens?
Por que a mulher quer o homem?
Por que o homem tem força de querer a mulher?

Por que há o cálculo integral?
Por que escrevo?
Por que minto?
Por que digo a verdade?
Por que existe a galinha?
Por que existem editoras?
Por que há o dinheiro?
Por que pintei um jarro de vidro de preto opaco?“
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo: crônicas.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.