quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Artur Lins e Potira Coema


Não Entender


Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo que falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

LISPECTOR, Clarice, A descoberta do mundo: crônicas.
Rio de Janeiro: Rocco, 1999

Nenhum comentário:

Postar um comentário